Nesta tarde de verão,
Estou sentindo dentro do peito,
Baladar meu coração
Não me falta inspiração,
Nem a você falta tambem,
O que eu tenho você tem,
Você diz, eu também digo,
Hoje, aqui no abrigo,
Mote vai Mote vem.
(Geraldo Alencar)
Os Motes são sentenças ou pensamentos que formam um tema, sobre o qual os cantadores devem improvisar seus versos. Funcionam como um desafio, para testar a capacidade improvisadora dos cantadores. A glosa consiste em pegar um Mote e desenvolvê-lo, levando em consideração a idéia nele contida. Diz-se que um cantador Glosou um mote quando ele cumpre esse desafio. Os motes são solicitados pelo público que assisti a Cantoria e determinam o assunto a ser desenvolvido e cantado pelos violeiros. Tem ouvintes assíduos de Cantorias que pedem Motes já solicitados por eles mesmos em outras apresentações, somente para ver duplas diferentes abordam os mesmos temas já debatidos anteriormente. Eles são criados e pedidos durante uma cantoria e podem ser compostos por um ou dois versos. Se eles não forem solicitados já devidamente metrificados, o cantador faz as devidas adaptações sem alterar o seu conteúdo:
Quando o mote é formado apenas por um verso ou linha, ele fica localizado no último verso da poesia. Exemplo:
Mote: ``Jumento não tem garupa´´
Segundo o que tá escrito
Jumento, por garantia,
Levou Jesus e Maria
De Belém para o Egito;
Não é animal bonito,
Mas no trabalho se ocupa,
Se ele der uma "upa"
Bota o sujeito no chão...
E eu não sei por qual razão
Jumento não tem garupa.
(Belarmino de França)
Quando o mote contém dois versos ou duas linhas, ele pode vir na estrofe de duas maneiras:
A) Na primeira, já pouco usado atualmente, a quarta linha da estrofe é formada pelo primeiro verso do Mote, enquanto sua última linha é composta pelo segundo verso do Mote. Exemplo:
Mote: ``Bebida de branco é vinho,
Palitó de negro é peia!´´
Juazeiro é pau de espinho;
Todo moleque é canalha;
Fichu de besta é cangalha;
Bebida de branco é vilho,
O pau que risca é gaminho,
O jantar de noite é ceia,
Casa de preso é cadeia;
Homem de força é Sansão,
Banho de cabra é facão,
Palitó de negro é peia!
(Luiz Dantas Quesado)
B) A segunda maneira é a mais usada. Aqui os dois versos do mote ficam localizados nas duas últimas linhas da poesia. Exemplo:
Mote: ``Eu vi os seios da lua
No topo da Borborema!´´
Ouvi murmúrios de rios,
Doces gorjeios de aves,
Com notas belas e graves;
Ouvi cantares bravios,
Inspirados nos gentios
E num ritmo de poema,
Envoltos num diadema,
Onde a ternura flutua,
Eu vi os seios da lua
No topo da Borborema!
(João Mendes)
OBSERVAÇÃO: Sabe-se de casos em que o Mote de dois versos aparece com a posição invertida no final da estrofe, mas isso constitui raríssima exceção. Exemplo:
Mote: ``Por você eu mato gente,
Mato você e me mato´´
Morena do meu amor,
Cabo da minha bengala,
Segredo da minha mala,
Meu cavalo corredor . . .
Sansão foi vencedor
Daquela luta decente,
Morena me da um pente
Prá tirá meus carrapato . . .
Mato você e me mato
Por você eu mato gente!
(Zé Limeira)
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